segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Brasileiro de Corrida de Aventura - 3 Minutos


Este ano me dediquei muito ao Trail Run e a expedições de trekking. A poucos meses meu amigo de triathlon, Marcelo Rosa, me veio com uma proposta de montanha audaciosa para janeiro, topei na hora e marcamos um trekking na Serra Fina para pegarmos uma certa experiência e ver como a dupla funcionava. Passamos vários "perrengues" como tinha que ser e estávamos aprovados. Na volta pra casa recebo o email do Fabio, presidente da Confederação Brasileira de Corrida de Aventura. Dizia que estava classificado para a final desse ano e que a prova seria organizada pela Brou Aventuras na Serra do Cipó, que sonho.
Perguntei a Marcelo se ele topava fechar uma dupla para a prova porque seria um grande desafio mental, o que nos ajudaria e muito para Janeiro. Ele topo na hora e lá estávamos no último sábado dia 17/12 a beira da Cachoeira do Tabuleiro, na Serra do Cipó, para a largada.
Já era minha terceira tentativa de fechar essa prova de mais de 130km e 20 horas de duração. Em 2015 e 2014 desisti da prova quando não havia condições de seguir, seja por inexperiência, seja por problemas técnicos.
Com isso falei que devíamos fazer a prova tranquilos, o objetivo era nos submeter ao intenso desafio mental que esta prova aplica sobre o atleta, você está lá solto na natureza selvagem, sujeito a tudo, sem auxílio, tendo que descobrir o seu caminho, perfeito!
Largamos e estávamos tranquilos, o visual da Cachoeira do Tabuleiro, os maciços de pedra da Serra do Cipó são de uma beleza única. Eu sempre critico o interior no Brasil, pois as montanhas viram pastos, plantações de eucalipto e por ai vai, mas lá não. A montanha é selvagem, dela brotam vários rios e cachoeiras de água filtrada naturalmente por um solo de cascalho, argila e pedra. Lindo!


Mas voltando à prova, largamos e fizemos o primeiro trekking na parte baixa no poço da cachoeira e depois de vencer uma montanha saindo do canyon iniciamos a bike. Fiz ótima navegação nos mapas e apesar de não estarmos numa ótima colocação vínhamos felizes, nos sentíamos  bem. Passamos o Posto de Controle 5 bem e tínhamos pela frente uma parede de pedra de 800 metros de altura percorrendo ela em 3km, um altíssimo grau de inclinação que resultou em 3 horas de muito sofrimento. Em um certo momento cruza pela gente o conhecido Brou Bruto, Thiago Drews e manda o conhecido grito: "Bruto demais! Sem fingimento! 100% pedalável!" Estávamos num empurra bike mas não nos preocupávamos com performance, nosso objetivo era brutalizar a mente e não o corpo. O terreno era tão selvagem que num momento em um simples movimento, meu pneu encontrou uma pedra afiada e simplesmente rasgou. Perdemos 30 minutos no conserto e seguimos em frente. Chegamos ao alto da montanha, pedalando na crista da Serra a vista foi recompensadora, estava um pouco nublado e com névoa o que deixava o ambiente mais selvagem, puro, limpo e de uma imensa paz. Apesar da lama, pedalava bem e Marcelo ficou um pouco pra trás, aproveitei para pegar o race book e verificar o horário de corte no inicio do trekking, dizia 17:00hs, meu animo veio abaixo. Eram quase 16:00 e tínhamos que cruzar a montanha e depois passar estradas numa difícil navegação por 20km, seria impossível mas Marcelo disse "eu acredito". Descemos forte e aos poucos alcançávamos as equipes que haviam nos passado quando rasguei o pneu. Navegando sem muita certeza e com muita força, fomos ultrapassando todos até chegar a Área de Troca as 17:03 quando o corte era as 17:00.
                                     
Por um momento fiquei feliz, porque a largada havia atrasado em 9 minutos era perfeitamente normal e esperado que fizessem o mesmo com os cortes. Nada disso, irredutíveis, a organização disse que estávamos cortados depois de 9 horas e 3 minutos de prova, aliás não, depois de 8 horas 54 minutos de prova, o que nos daria direito a prosseguir mas não foi o que aconteceu.
O procedimento era seguir de bike direto pra canoagem, depois fazer os últimos 20km da prova. 
Olhei pra Marcelo e a tristeza tomou conta, não discuto mais fervorosamente com as organizações de evento, expus meus argumentos e eles não acataram, disseram que "melhor assim, não era pra ser" . Não gostei mas acatei, não iria seguir para a canoagem, a prova pra mim tinha acabado, eu não preciso da organização para estar na natureza, a ideia da prova era curtir e participar de um desafio junto a outros competidores, já não me sentia mais em igualdade e seguimos o rumo de casa.

Nas provas de corrida de aventura, desistir não significa relaxar e tomar um banho, você é autossuficiente, então para chegarmos em casa, no caso, nossas barracas no camping, tínhamos a missão de 50km de estrada pedalando. No caminho para casa uma grata surpresa, no povoado de Ouro Fino paramos em um bar que havia uma Kombi de frete na frente, perguntamos de quem era mas o dono não estava lá, nisso pedimos ajuda e apareceu o Dimas, um sujeito bacana que pegou sua caminhonete em casa e disse que iria nos levar para o distrito de Tabuleiro onde estávamos, tivemos uma ótima prosa mineira no caminho. Dimas contava da sua interessante vida de uma pessoa que vivia para o trabalho em BH e largou tudo para voltar a morar no povoado onde nasceu com a família. 11 anos depois, disse que não se arrepende e a esposa não quer sair de lá por nada. Fiquei feliz em conhecê-lo, prova de que vale a pena estarmos "vivos" como ele disse ao invés de estarmos na rotina das grandes cidades.

Chegamos, 21:00hs da noite, tivemos uma boa refeição, falamos com os familiares e fomos dormir. A todo momento aquela mistura de pensamentos vinham a mente, tive várias análises e como disse nosso amigo de prova, um baiano, "vence aquele que tem menos "se". Se não tivesse rasgado o pneu, se tivesse feito uma parada 5 minutos mais rápida para comer, se se se...

De qualquer forma estava feliz, a experiência nos fez mudar algumas idéias e o bate papo com outros aventureiros nos fez mudar a estratégia do desafio em janeiro. 2017, estaremos lá de novo!