quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

Aconcagua, uma Segunda Chance

Aconcágua, uma segunda chance!

Em poucos momentos na vida temos uma segunda chance, mas a montanha mais uma vez se mostra única, ela é cruel com quem não a respeita mas ao mesmo tempo estará sempre lá, pronta para te receber novamente, para que você volte diferente, com os aprendizados, a cumprimente mais uma vez e mostre a ela como você mudou e se agora será digno dela.
Pois bem, o meu maior aprendizado foi o mais básico, comum e que volta e meia repetimos, jamais subestimar a montanha. Nessa nova jornada passei meu tolo plano de 2017, de 7 dias para o cume, sonhando até com corrida, para um audacioso mas real plano de cume em 9 dias, mas, dessa vez, com estrutura para estender por 15 dias caso a montanha mandasse!
Planos traçados é hora de empacotar tudo e ir de encontro ao inesperado.
Toda a viagem foi uma mistura de nostalgia com ansiedade. É engraçado, em 2017 eu vi o cume sentado no avião e tinha uma certeza que o lograria, dessa vez eu tinha outros olhos, conseguia enxergar como o Colosso das Américas era imponente, como seu cume era remoto e soberano frente a toda cordilheira dos andes, o que me confortava era o pensamento de que dessa vez eu tinha tempo, dessa vez eu iria fazer o que a montanha mandasse, mas ainda assim, impossível prever qualquer coisa.
Chegamos em Mendoza, aluguel de equipamento, Marcelo resolveu se equipar bem com saco de dormir de -40 graus, eu, ainda teimoso, tinha comprado um de -10, mas de pluma de ganso e confiava que ia dar certo, fora isso, tudo uma repetição do ritual de preparação, permisso de escalada, botas, crampons, ate mesmo caminhar pelas ruas e fazer cambio no mesmo lugar nos fazia lembrar do outro ano e a todo momento retornava a ideia, o que vai acontecer esse ano?
A primeira mudança foi quanto ao horário de entrada no parque, dessa vez resolvemos sair cedo de Mendoza, chegar a Penitentes perto do horário do almoço, entregar nosso equipamento pesado para as mulas na empresa e almoçar, comer bem, comer no restaurante que nos acolheu do nosso regresso de 2017, comer o ultimo chorizo, a ultima cerveja, depois disso, de barriga cheia, seguiríamos para a entrada do parque fazendo a pequena caminhada de 3 horas que nos levaria ao primeiro acampamento Confluenza.

A chegada a Confluenza 1 foi tranquila, um final de tarde, 3.200mts a sensação de que tínhamos começado pra valer. Marcelo optou por ter suas refeições com a empresa, eu na minha teimosia de auto suficiência, fiz a minha própria, cedi quanto a dormir no Dome deles, seria menos uma vez que teria de montar e desmontar a barraca. Tudo tranquilo, ventava muito e fazia sol, nos sentamos na sombra do Dome e batemos papo, avistávamos curiosos um asiático com a barraca quase decolando e ele na sua paciência, não sabíamos ainda mas nossa história iria se juntar ainda mais vezes.
Dia 2. Bom, aquela longa caminhada de pouco mais de 30km pelo vale que chega ao Acampamento Base. Caminhar é uma das atividades mais entediantes e sofridas para mim, tudo dói, demora muito e a cada minuto a mochila ficava mais e mais pesada, saindo de 20kg e chegando com uns 30.
Mas é claro que caminhar num vale da Cordilheira dos Andes é incrível, a todo momento você para e contempla, vem um pensamento à cabeça, para mim, sempre me impressiona a imensidão da montanha, você repara e está cercado de montanhas de 5 mil metros, mas como você tem um panorama tão vasto, elas parecem pequenas, parecem não mais complicadas de subir que um morrinho de pasto em uma fazenda, mas basta você se aproximar um pouco e ver a magnitude daquela rocha.

Depois de alguns cruzamentos com mulas, paradas de lanche e muito sol, chegamos a base da subida para o acampamento base, Plaza de Mulas. Esta ultima subida tem cerca de 400 metros e como disse, parece simples mas depois de 7 horas no sol a coisa fica séria. Comecei a subir num bom ritmo, já estava quase a 4 mil e queria sentir meu corpo, tudo saiu bem, quase terminando, Marcelo ainda se alimentava e relaxava antes de encarar a subida. Quando o vi la embaixo me veio um sentimento curioso, estava distante dele mais ou menos a altitude que me faltou para o cume em 2017, pude constatar o quanto fiquei próximo, me enchi com um sentimento de que faria a qualquer custo dessa vez mas ao mesmo tempo um medo real de algo acontecer e não chegar nem tão perto novamente.
Cheguei. Ver a placa de Plaza de Mulas foi como sentir que cheguei em casa, ali em 2017 sofri muito, passei mal, tive uma avalanche de sentimentos, o que me esperava dessa vez? Fui para a tenda de check in médico, 2 escoceses esperavam também, havia acabado de retornar da Escócia, naturalmente falei nos lugares que estive e eles disseram que não conheciam, acontece com frequência isso já que estou sempre catando uns buracos quando viajo. Avaliação médica ok, fui armar minha barraca, Marcelo havia decidido que ia dormir todos os dias na maca do Dome, sendo assim me emprestou sua barraca, para o jantar começava as intermináveis jornadas de cozinhar vários tipos de comida, principalmente liofilizada, que em resumo são todas péssimas, mas até nisso melhoramos um pouco que do outro ano.

Dia 3. Primeira noite no Base Camp foi super tranquila, dormi bem, me sentia bem e o melhor, a primeira mudança de 2017, nosso dia seria de descanso! Fiquei um pouco preocupado como iria ocupar meu tempo o dia todo, mas é impressionante como fazer tudo devagar consegue consumir bastante tempo. Marcelo baixou um livro para mim no celular, do explorador Schackleton, leitura perfeita para a ocasião, náufragos na Antártida, passando frio extremo, se alimentando mal e tendo que buscar forças para se manterem vivos, nossa jornada mal havia começado mas sabia que encontraria varias semelhanças em nossas historias. Nossos vizinhos eram hermanos, um corredor de montanha que já havia feito o Aconcágua em ascensão rápida, correndo desde a portaria ao cume como meus ídolos, me contou os bastidores de tal empreitada e nos apresentou o grupo de 3 pessoas que ele levava, um grupo distinto de um senhor que aparentava seus 50 e poucos e outros dois mais jovens na minha idade, tínhamos planos semelhantes e apesar de parecerem inexperientes contavam com um ótimo guia. Passei boa tarde do dia nas cadeiras espreguiçadeiras, um verdadeiro jogo de sinuca, pois, sob o sol forte se sentia calor, mas ao tirar os casacos vinha o vento cortante do vale e gelava o corpo instantaneamente, mas até isso foi bom, fez o tempo passar, e entre ciclos de musica e leitura, sombra, sol e garrafas de água, o tempo passava. Me senti bem o dia todo, era ótimo estar no acampamento base me sentindo bem, eu coloquei a minha barraca no mesmo local de 2017, e o caminho para ir ao banheiro, pegar algo na barraca, fazer comida era tão diferente do outro ano, eu não cambaleava mais em sofrimento, eu podia olhar em volta, admirar, acenar para um companheiro, responder uma pergunta, coisas simples que quando estive mal não conseguia fazer. Jantamos e outra boa noite de sono a frente.

Dia 4. O dia do ataque ao cume vizinho Cerro Bonete com 5.000 metros de altura. Acordamos, encontramos nossos vizinhos hermanos já adiantados no cafe da manha e eu Marcelo decidimos não nos preocupar muito com horário, eram 14km de ida e volta, o clima não estava ruim e sabíamos que não seria tao difícil. E de fato não foi, depois de uma curta caminhada passando pelo hotel abandonado e a estacão dos Rangers entramos no vale e podíamos avistar o cume ao fundo. A subida era de terreno bom, com zig zag e apenas o final tinha trechos técnicos de pedra e escalaminhada. Eu queria muito ter ido de tênis, ser ágil, mas um mix de cautela, se acostumar com a bota e respeito a montanha me fizeram mudar de ideia, assim a subida não foi tao rápida, mas cadenciada, fui buscando nossos hermanos que haviam saído antes e constantemente olhando para trás e vendo, na verdade encarando ou reverenciando o Aconcágua, era constante o pensamento de pedir que tudo desse certo. Metros finais e cheguei ao cume com os hermanos, Marcelo demoraria mais uns 40 minutos então resolvi relaxar e esperar por ele, o cume era lindo, do jeito que eu gosto, apenas uma ponta de pedra onde mal 2 ou 3 pessoas podem ficar em pé, se via toda a imensidão em 360 graus e a forma rápida como subi, me senti muito agradecido, um grande alivio tomou conta de mim porque sabia que se tudo desse errado eu tive aquele momento, e ele valeu. Marcelo chegou, a felicidade dele foi a mesma, acho que renovou as nossas forcas e descemos no melhor estilo trail run, gritando, felizes, satisfeitos. Nessa noite cedi minha teimosia de auto suficiência e me dei ao luxo de tomar um banho quente, 25 dólares, que me renovaram, estava pronto, agora era descanso e a espera pela batalha que estava por vir.

Dia 5. A calma antes da tempestade. Graças a Mãe Natureza, não tínhamos tempestade no clima, apenas internamente, apesar de descanso, grande parte do dia foi tomado com os preparativos do material que iríamos levar em direção ao cume, alguns ajustes de logística com a empresa, visita a tenda médica, tudo seguia bem. Nossos hermanos argentinos tinham planos mais cautelosos e não seguiriam no próximo dia, isso acendia alguns alertas do tipo, estaria sendo novamente arrogante?  Desde o dia anterior após o retorno do Bonete, tinha leve dor de cabeça, suspeitava do sol, entrei no remédio Diamox que alivia o inchaço principalmente da cabeça, como era alérgico a Sulfa, a medica disse que não poderia tomar, mas uma consulta online com minha irma e comecei o tratamento muito leve monitorando qualquer problema. Tudo certo! A montanha continuava a me tratar bem e mais uma noite de sono, desconfortável mas tranquila vinha pela frente.

Dia 6. É a hora! Começavamos mais uma vez uma jornada de 4 dias que terminaria no cume. Em 2017, eram apenas 3 dias esta programação. A caminhada até o Camp 1, Plaza Canada a 5.050mts lembra a comparação que fiz das montanhas que pareciam morros de pasto no vale, de como pareciam simples, ledo engano. A subida é muito íngreme e a montanha começa a impor o seu ritmo, você vai lento não porque você quer, sua cabeça diz que você pode ir mais rápido, mas você está carregando quase 30kg nas costas e 2 kilos em cada pé, você esta a 5.000 metros de altitude, a concentração de oxigênio no ar é quase a metade de quando você esta dando uma corrida na praia, não há escolha, o melhor a fazer é se acostumar, começava o jogo mental que duraria 4 dias, de apenas juntar forcas e seguir sempre em frente, no caso, acima, sempre acima. A caminhada durou 3 horas que mais pareciam 10 e enfim cheguei. Procurei um lugar enquanto Marcelo chegava, montamos nossas barracas e o vento começava a mostrar sua forca. Tínhamos uma boa surpresa no entanto, encontramos brasileiros no dia anterior no CB e eles nos disseram que haviam escondido feijão e batata doce numa pedra, não dei muita confiança pois não queria alimentar esperanças que encontraria e tampouco estivessem em boas condições, mas a mente ainda funcionava bem, foi muito fácil achar e a comida estava embalada a vácuo, na alta montanha nada sobrevive, então quando esquentamos e abrimos o pacote, estava simplesmente delicioso! Marcelo sempre me disse que a comida que você tem em alta montanha vai ser sempre a melhor da sua vida, se você fizer um miojo, vai ser o melhor miojo do mundo, imagina então uma porcão de feijão? Aquilo foi a maior sensação de conforto que poderia ter. Alimentados, saímos a procura de água, nos haviam dito que escorria um filete de água do glaciar a uns 200 metros e fomos ate la. Nos reabastacemos e quando voltamos o fim do dia se aproximava, e não há outra escolha, hora de se recolher a sua barraca, de ficar em silencio e escutar o seu corpo, o meu, ainda dizia que estava tudo ok, relaxei, fiz um pouco mais de comida ao anoitecer para dormir bem. Opa, tá na hora de alguns problemas, durante a noite o clima virou completamente, ventava muito, minha barraca estava super bem ancorada mas era pequena e as varetas dela tem a forma de um Y, ou seja, apenas uma vareta longitudinalmente fazia sua estrutura, o vento acertava a barraca em cheio por todos o lados e tudo dobrava de um lado para outro, parecia a vela principal de um veleiro, de um lado o vento me amassava e fazia a barraca colar com a fina camada de gelo no meu rosto, do outro lado, formava um balão com o ar que não conseguia escapar. Dormir essa noite foi como encontrar uma posição em ônibus, eu colocava a perna para cima e fazia forca contraria ao vento para estabilizar a barraca, trocava a posição e tentava dormir, dava certo, mas bastava a primeira rajada mais forte para me vencer, tudo empenar e eu me encher de preocupação. Aos poucos fui percebendo que a barraca estava bem ancorada e enquanto eu estivesse ali dentro seria impossível ela voar, é engraçado, você esta dentro do saco de dormir, quente, com o zíper fechado, dentro da barraca faz 0 graus, do lado de fora com o vento, uns -20, mas ainda assim eu ficava o tempo todo pensando se valia a pena sair, ver a situação e tentar melhorar, ainda bem, resolvi deixar pra la, consegui ter sonos intermitentes o que para mim era o suficiente, não esperava mais que isso nos próximos dias.

Dia 7. Uau, já terminava a primeira semana que estava na montanha, não parecia, quando faço viagens, no sétimo dia já estou chegando a um ponto onde começa a parte final, onde sentimentos de daqui a pouco estou em casa me invadem. Amo e preciso viajar, mas nunca fui desses de viajar sem data para voltar, que sofrem na hora de voltar, gosto das curtas expedições, da recarga da bateria no meu lar, no meu lugar e ai já planejar o próximo destino, acho que deve haver uma semelhança entre esse sentimento e minha carreira de atleta com suas preparações entre uma competição e outra.
Hora de sair da barraca. O tempo estava bom, era difícil acreditar na noite que passamos, como o clima muda na alta montanha. Juntamos nossas coisas e fomos em busca do mesmo ponto de água de ontem para encher tudo que bebemos a noite e a prova da noite gélida estava la, tudo havia congelado, não havia nenhum filete de água, o jeito era subir e começar o processo de derretimento de neve. Tomamos café e iniciamos a caminhada. Tínhamos mais 500 metros de subida onde chegaríamos ao ombro da montanha, tudo corria bem, encontramos um filete de água no caminho e enchemos tudo que tínhamos, pesados, começamos a ultima subida do dia, aquela em que se pode enxergar aonde vai chegar e quase tocar, mas você esta 3 horas de distancia. Era interessante como por vezes eu esperava e olhava para trás para ver Marcelo, ele não parecia distante e então eu parava um pouco, 5 minutos se passavam e ele parecia não ter se movido, voltava para trilha e continuava a minha caminhada, você não quer em nenhum momento deixar o sentimento de "parar um pouquinho" tomar conta de você, são em momentos assim, com esse inocente pensamento que montanhistas se entregam e ali ficam ate congelarem.
De repente, como que com hora marcada, o tempo vira, tudo fica branco, uma pequena nevasca se iniciava, alguns metros acima e já não se via muita coisa, o cume do Aconcágua havia sumido e dois dias depois eu tinha que estar lá, nestas condições seria impossível e eu começava a me perguntar se aquele era o inicio do fim. Como me sentia bem, a nevasca não me afetou muito e confiei na previsão do tempo para os próximos dias e segui forte até o destino, no inicio da tarde chegava ao Camp 2, Nido de Condores, 5.500 metros. Sabia que Marcelo iria demorar um pouco e ventava muito, eu não conseguiria montar minha barraca facilmente sozinho, então procurei um abrigo em uma rocha, comi algo pronto e fui ate uma barraca dos Rangers que existe neste acampamento, o ultimo que os helicópteros conseguem chegar e resgatar alguém se preciso. Eu havia tido um problema com minha sacola de, dejetos sólidos sabe? Temos que ter uma apenas para isso na parte alta da montanha, ela é numerada e você deve retornar ela ao acampamento base, ocorre que na estréia do meu banheiro sacola no Camp Canada uma rajada de vento a levou sem deixar vestígios, com os Rangers, eles disseram para não me preocupar, avisaram a base e trocamos 2 palavras entre elas a confiança de que daqui a 2 dias teríamos uma boa janela de tempo para o cume. Ao sair do abrigo deles o tempo estava péssimo, me preocupei com Marcelo e fui ate a ponta da subida mas não conseguia o avistar, me protegi numa pedra e descansei um pouco, ao longe podia ver uma barraca deslocada de todas as outras, num lugar com muito vento, era uma barraca laranja igual a do asiático do primeiro camp la embaixo, pensei, se for o mesmo cara, que dedo para escolher local.

Logo depois, Marcelo chegou, acampamos no mesmo local do outro ano, combinamos que um iria ajudar o outro a montar a barraca, ia diminuir bastante os esforços. Bastou começar a montar e a nevasca entrou de vez, muita neve que ao tocar qualquer coisa virava água, começavamos a nos molhar, o chão de terra começou a encharcar e não tínhamos escolha, montar as barracas o mais rápido possível e entrar. Me lembro muito bem, parecíamos pessoas recolhendo tudo as pressas debaixo da chuva para não deixar nada molhar, quando entrei na barraca, tirei a roupa úmida, entrei no saco e fechei, a sensação era igual aquela de entrar num carro quentinho num dia chuvoso, você grita caramba que frio, mas esta a salvo, que sentimento bom. No entanto, era crucial arrumar tudo, jantar e depois pensar em relaxar, por sorte, tínhamos água suficiente para passar a noite, então ficamos trancados o tempo todo conversando e rindo da loucura que estávamos fazendo em uma nevasca acampados a 5.500 metros. Chegou o fim do dia e o vento empenava ainda mais a minha barraca que já não tinha nada simétrico em seu formato, dessa vez comecei a me preocupar mais, na correria da montagem não me lembrava se havia ancorado ela bem com as pedras, e dessa vez decidi por sair do conforto e avaliar, pensei que se fosse mais tarde seria pior com a noite. Abri a porta da barraca e como quem toma um folego para dar um mergulho saí fazendo a vistoria rapidamente, fiz uns acertos e como estava bem protegido de casacos, me dei conta que não sentia frio, resolvi levantar a cabeça soltar o folego e me deixar sentir a força daquela nevasca. Era lindo ver ela cortando o acampamento, sacudindo tudo pelo caminho, ao longe nas montanhas era o por do sol e os poucos raios iluminavam a neve no ar, zero chances de pegar a máquina para registrar, muita logística, gravei aquelas imagens em minha mente. Ao longe, vejo a barraca que suspeitava ser do asiático, ele estava em pé, imóvel, fazendo o mesmo que eu, tive certeza de que era ele pela forma que ficava, gritei Marcelo, "bicho você não vai acreditar quem esta em pé do lado de fora da barraca viajando", aquele doido asiático", rimos um pouco e voltei para meu "carro quentinho". Bem ancorada, apesar de muito vento, a noite foi como a anterior, raios, ventos e sonos leves, estava tudo bem.

Dia 8. Desde a difícil noite anterior eu já mantinha um pensamento na cabeça, "faltam apenas 2 noites", contava noites porque a melhor parte do dia sem duvida era estar caminhando, ali você tinha um proposito, lutava fisicamente contra a montanha, enquanto que as noites eu me encolhia e quando acordava torcia para estar próximo da hora de levantar ao invés de ainda ter varias horas de "sono" pela frente, exatamente o oposto de como nos sentimos no conforto de nossas casas. Então acordei no dia 8 já com o pensamento, esta acabando, mais um noite pela frente, mais poucas refeiçoes liofilizadas e chega o momento de encarar o cume. Tomei café e fomos derreter neve para levar, não foi fácil, pegamos imensos blocos de neve com um saco improvisado, acabamos com nossas mãos todas molhadas mesmo com luvas mas tivemos uma boa surpresa, não foi tao demorado o processo de derreter e em quase 1 hora tínhamos 3 litros de água. Juntamos tudo e vamos subir. Em 2017 eu sai deste ponto às 2 horas da manha, a montanha totalmente no breu e seguia o ataque para o cume, Marcelo tinha dores de cabeça e ficou, lutei bravamente mas não dava, era impossível para um garoto da praia, do nível do mar, sair de casa e estar no cume de 6962 metros em apenas 7 dias. Foi interessante ver toda a parte do caminho que fiz a noite agora durante o dia, algo de novo começava a rolar. Fizemos nossa subida tranquila com tempo firme todo o tempo, tudo parecia estar certo. Andava num ritmo melhor e cheguei ao acampamento Berlim, reparei que não havia ninguém, a principio achei estranho, mas lembrei que todas as expedições usavam um acampamento próximo, a mesma altitude, o Colera, ali tomei a decisão de seguir para lá também, não iria ser teimoso a ponto de achar que poderia tomar uma decisão diferente da maioria. Marcelo não gostou muito da noticia no radio, ameaçou querer ficar mas expliquei que não seria sábio e consegui avistar ao longe ele vindo em minha direção. Mais quase uma hora e ele chegou, foi uma ótima decisão, o acampamento ficava protegido por pedras, estava cheio, nos sentíamos seguros, foi fácil montar a barraca, desta vez apenas uma, tínhamos deixado a minha montada em Nido de Condores com algum peso não necessário e também para servir de refugio quando voltássemos do cume no dia seguinte. Depois de conversar com alguns brasileiros que tinham uma barraca só para banheiro, fomos cumprimentar o outro vizinho, uma grata surpresa, nosso amigo asiático. Consegui descobri que ele era do Japão, disse que estive no seu país, em varias montanhas, mais uma vez recebi a resposta que ele mesmo não havia estado la ainda mas foi muito bacana o conhecer, o admirei por estar ali sozinho. A verdade é que estávamos muito bem, arrumamos nossas coisas, comemos, tudo estava calmo, a ausência da nevasca e de quase a totalidade de vento trazia uma calmaria ao acampamento, um conforto. Pude aproveitar o por do sol e pensar, "acabou, é a ultima noite e daqui a pouco sigo minha escalada a um resultado desconhecido".

Dia 9! CUME! Na noite anterior, combinei com Marcelo que ele acordaria 1 hora antes de mim, tomaria seu cafe e sairia no mesmo horário das expedições, eu iria depois, um pouco mais rápido, a logística dos dois se arrumando na mesma barraca seria complicado. Ele acordou no horário dele, eu acordei junto, óbvio, e pude bater um papo, desejar força! Quando ele saiu da barraca não preguei o olho, mas fiquei ali no quentinho em silencio não com sentimento de medo ou preguiça de ter que sair daquele conforto, mas tentando adivinhar em inúmeros cenários o que me esperava para aquele dia, o que eu poderia controlar naquelas próximas horas, me lembro de em nenhum momento sentir medo de fracasso, preferi lembrar tudo que já tínhamos passado, e passado bem, Marcelo já estava a 6.000 metros, um feito inédito para ele e resolvi me convencer que se não tivéssemos cume, estaríamos felizes.
Tomei meu cafe e hora de partir, era 05:26 da manha e quando saí da barraca a noite estava linda, o céu tinha estrelas como se pode ver numa fazendo isolada ou num barco em alto mar, estava muito longe da civilização, para uma missão que dependia apenas de mim e da permissão da montanha. Tomei meu folego e iniciei a subida. O inicio era um zig zag em terreno fácil e percebi que cometi um erro em sair tarde, ultrapassar as lentas expedições de 10-15 pessoas era penoso e me exigia explosões de esforço, me preocupava se iria pagar aquilo mais tarde mas ao mesmo tempo não queria perder tempo, porque sei que poderia precisar dele mais tarde, com isso ia andando com algum desconforto, bebia pouca água e sentia muito, muito frio nas pontas dos dedos. Acelerar o ritmo ajudava um pouco mas começava a me preocupar, meu único conforto era pensar que naquela altitude e durante apenas algumas horas de exposição meus dedos não iriam iniciar processo de congelamento, não iria perder eles mais tarde, comecei a massagea-los e segui em frente.
Todas as lanternas a minha frente apontavam para o cume, e eu passava elas como se estivesse em uma prova, quando de repente umas das luzes vinha na direção contrária, era Marcelo, cheguei a ter que esbarrar nele para pararmos e trocarmos umas palavras, "o que houve?" eu logo perguntei, e apenas um "não da pra mim, estou com muito frio" foi o que pude ouvir, ele queria descer e eu precisava subir, não dava para ser diferente, não dava para raciocinar, ele havia tomado sua decisão e tudo que ele buscava era sua sobrevivência, eu continuei minha subida e alguns passos depois realizei o que havia acontecido, não faríamos o cume juntos, fiquei com raiva de Marcelo, queria muito que ele conseguisse, não me desanimou, mas lembro de ter ficado com raiva que não estaríamos juntos, na mesma hora também lembrei que a decisão mais sabia que se pode tomar na montanha é desistir e retornar, eu havia passado por isso tao próximo do cume e também nem sabia se o teria que fazer de novo, poderia dar alguns passos e ter que retornar também, então, compreendi e comecei a escalada agora carregando nos dois.
Segui no ritmo passando as expedições e cheguei ao ponto onde começava a neve e os trechos difíceis acima de 6500 metros com apenas alguns montanhistas, paramos em um antigo abrigo de madeira do tamanho de uma casa de cachorro e colocamos os crampones, já tinha 3 horas de caminhada, eram quase 9 da manha e finalmente os primeiros raios de sol conseguiam vencer a altura das primeiras montanhas mais baixas no horizonte da cordilheira dos andes e ganhar altura para me alcançar. Foi incrível a energia que senti, lembrei novamente de Marcelo e do ano de 2017, tudo estava bem. Neste momento você volta para a face leste do Aconcágua e perde-se a luz do sol novamente, iria passar pela Travessia, um trecho difícil de explicar, uma trilha estreita pouco íngreme comparado com o resto do trajeto mas é como caminhar no alto de uma duna, são poucas as grandes pedras e um deslize ali pode fazer você cair, ganhar velocidade e sabe-se la onde vai parar, mas o perigo não preocupa, é seguro, o pior ainda esta por vir. No caso eu pensava que era o resto do caminho, mas não, foi uma mudança no clima. Me lembro de estar no meio da Travessia, totalmente exposto sem nenhuma grande pedra bloqueando algo, a 6.600 metros e de repente olhar para a minha direita e no horizonte ver um imenso céu negro, dali se podia avistar o Cerro Bonete, mas em segundos ele foi engolido por nuvens escuras que vinham em minha direção, não parecia um fenômeno natural, parecia que o cume do Aconcágua as atraía como imãs e eu estava no meio do caminho. Não demorou nem 2 minutos e as nuvens se deslocaram quilômetros e já tomaram conta de tudo, a temperatura baixou bruscamente, toda a minha roupa congelou, aonde havia um minimo de umidade agora eram flocos de gelo, a visibilidade sumiu, eu já não podia ver o fim da Travessia, comecei a chacoalhar de frio, e o pensamento me encheu de forma fulminante "será? sera que acabou? será que vou ter que retornar?"
Olhei para frente e consegui avistar um montanhista a uns 30 metros, ele seguia em frente, olhei para trás e havia outro na mesma distancia, ele me observava parado, pensei "se ele esta indo eu vou também", coloquei o passo a frente e comecei a vencer aquela escuridão. O frio era difícil de explicar,  não ventava muito, ainda bem, senão penso que seria impossível, caminhei por mais 1 hora e cheguei a La Cueva a 6700 metros.
La Cueva, neste lugar cheguei cansado em 2017, mas ao sentar para me alimentar pude realizar que estava já exausto, me lembro que tomava as batatas Pringles e as levava a boca, de repente acordava como quem estava morrendo de sono e levava outra leva de batatas a boca, 5 minutos pareciam haver se passado, mas quando vi estava ha uns 40 minutos naquela situação e não havia comido nada, a cada viagem da mão ate a boca com as batatas eu adormecia e acordava minutos depois, quando levantei e senti meu corpo fraco e pesado tomei a decisão de voltar. Este ano a situação era diferente, a mente estava boa, havia tomado uma decisão de continuar mas o frio estava me vencendo, quando sentei na Cueva não podia raciocinar tamanho era o frio, me veio um sentimento muito interessante, eu sofria muito, nunca havia passado por uma situação daquela, mas estava gostando, estava gostando que estava extremo, eu estava seguro que o frio nao ia me impedir, me sentia bem, imediatamente me vieram à mente as situações lidas no livro do Shackleton nos dias de descanso do acampamento base, o frio extremo, comecei a dar porradas nas minhas pernas e no meu peito, mexia minha mãos e dedos vigorosamente, em meio a todo esse movimento descoordenado e desesperado pegava algo na mochila para comer e beber. Uns 15 minutos se passara, consegui me alimentar e hidratar um pouco, tirar ou não a luva para mexer melhor na mochila era uma decisão dificil, quanto tirei nao sentia tanto frio com as mãos descobertas, fiquei preocupado, podia ser o início de um processo de congelamento onde já não sentia as mãos. Mas, estava pronto para seguir em frente, e como se fosse um teste, no primeiro passo adiante da mesma forma que chegou, as nuvens negras se dissiparam quase que totalmente e como se abrissem as portas para o cume a próxima parte do desafio se mostrava, a Canaleta.
A Canaleta é uma "parede" que fica encoberta pela pedra que forma a Cueva, dessa forma fica a maior parte do dia na sombra e por isso está sempre coberta de gelo, eram 10:30 da manha e a parede de neve brilhava agora com o sol, me senti seguro de poder enxergar tudo que me esperava, me sentia bem fisicamente, até então as dificuldades que enfrentava era a montanha que me oferecia. Iniciei então a subida, 3 passos dados e tentava achar uma forma de subir tamanha inclinação com aquelas botas gigantes sem dobrar o tornozelo. De repente algo estava mal, a inclinação era tanta que meus crampones começavam a se soltar das botas, não me importei, a Canaleta era muito curta, porem, mais uns 10 passos acima e estavam totalmente soltos. Me senti frustrado, realizei que ia ter que parar e resolver o problema. De alguma maneira consegui sentar em uma inclinação de neve de uns 30% e analisar as amarras, apertei bem todas e voltei a subir, 10 passos mais e tudo solto novamente, comecei a entrar num espiral de desespero, se aquilo ia me impedir de seguir em frente, mas ainda estava com boa consciência, parei novamente e pensei que tinha que tirar o equipamento, analisar com calma e mesmo que demorasse, resolver o problema de vez, não poderia seguir dando 10 passos e parando novamente, aquilo iria me derrotar mentalmente. Foram uns 30 minutos entre a primeira parada e a final, mas o problema estava resolvido, pude levantar e depender apenas de mim novamente, foi como ter olhado para montanha e falado "estou de volta ao jogo".
Vencida a Canaleta, eu estava a uns 6800 metros, quase 6 horas de subida e poucos metros me separavam do cume, mas tudo só acaba quando termina. Esse trecho é praticamente já a crista da montanha, um emaranhado de enormes pedras que pouco te deixa espaço para por o pé, foi neste exato trecho que a montanha começou a fazer sua parte. A sensação é simplesmente indescritível, de repente uma forca parece alterar a relatividade das distâncias, do tempo, da altitude, qualquer 5 metros de distancia, 5 passos a frente, pareciam levar uma eternidade e incontáveis movimentos de respiração. A essa altitude você já tem 20% do oxigênio comparado ao nível do mar, qualquer coisa até mesmo se manter vivo e respirar é desgastante não só fisicamente, mas mentalmente, principalmente. É como se o cérebro no comando não entendesse o que esta acontecendo com o resto do corpo, como se ele mandasse o comando de acelerar, de dar uma passada mais longa e isso não ocorresse. Nessa hora eu dava alguns passos, levantava a cabeça e avistava o cume, era péssimo, cada vez que eu fazia esse ciclo eu podia jurar que não havia me movido nem 1 metro. Depois de muito sofrer naquela situação comecei a pensar em parar, descansar e melhorar um pouco para fazer o final em melhor condições, mas aí me veio na hora o ensinamento do "eu só vou parar um pouquinho", e ali fica eternamente", pensei, vou caminhar sem mais olhar para o cume. Não sei qual seria a decisão correta, talvez pelo horário e me sentindo bem, parar um pouco teria me relaxado, sei que nesse momento os sentimentos mudavam um pouco em minha cabeça, eu sabia que ia chegar ao cume e aquilo já não me enchia de felicidade, o sofrimento era tanto que começou a perder um pouco o sentido. Sempre quando estamos sofrendo seja em provas, seja em desafios, nos lembramos dos amigos que não entendem o porque fazemos isso, sempre senti pena deles por eles nunca terem experimentado a sensação, mas no momento eu dava um pouco de razão a eles, não conseguia curtir o momento, coloquei a cabeça pra baixo e caminhei, só parei quando vi as grandes pedras empilhadas, sabia que eram as que tinha que subir em uns 3 lances para chegar ao cume.
Olhei para cima e la estava, 3 passadas largas e o platô do cume do Colosso das Américas, o primeiro sentimento foi sem dúvida de alívio, não só de ter conquistado, mas de saber que não precisaria mais voltar ali, a missão estava cumprida. No momento seguinte comecei a me preocupar que estava cansado e que tinha que voltar todo o caminho. Em seguida a avalanche de pensamentos foi se acalmando, comecei a olhar em volta, no horizonte, podia reparar na curvatura da Terra, saquei minha câmera, pedi uma foto do cume e em seguida comecei a fazer vídeos. Foi neste momento que comecei a realizar aonde estava e o que havia feito, era quase 1 hora da tarde, um domingo e não pude evitar um pensamento de o almoço está servido, a família à mesa, as lágrimas vieram instantaneamente. De casa, eu sabia que eles estavam me observando através do localizador, eles sabiam o que eu havia acabado de conquistar, era como se eu pudesse por um instante sentar à mesa, levantar uma taça e brindar com eles. Um pouco de paz, uns sorrisos, um balanco dos pensamentos, de tudo que havia passado, não só neste ano mas muito mais do que passei em 2017, o aprendizado, o auto conhecimento, o orgulho do plano ter dado certo, a certeza de que eu desceria a montanha uma nova pessoa, foram muitos os sentimentos e muito curiosamente, todos eles esperados, você precisa passar por isso para se transformar, mas era como eu esperava, a verdade é que as sensações são muitas e muito complicadas de absorver, então acho que só quando fui precisar delas no dia a dia posteriormente, realizei que o aprendizado havia sido concluído. Obrigado Aconcágua pela segunda chance!














Release - Primeiro Capixaba da História no Teto das Américas


 PRIMEIRO CAPIXABA DA HISTÓRIA NO TETO DAS AMÉRICAS



Saindo do nível do mar, nas areias da Praia de Camburi aonde costuma correr diariamente, o capixaba ultramaratonista de montanha Joao Vitor Novaes fez história no ultimo dia 28 ao conquistar o cume do Aconcagua na cordilheira dos Andes.

A montanha com 6.962 metros de altitude é o ponto mais alto da Terra excluindo os Himalayas aonde está o Everest. Considerada o Teto das Américas o Aconcagua ofereceu ao atleta um cardápio completo de desafios, nevascas com 35 graus negativos, ventos de 70km/h, baixíssima umidade no ar e não esquecendo é claro as características da alta montanha, baixa pressão e falta de oxigênio.

O atleta conseguiu o feito em sua segunda tentativa, ele havia tentado em 2017 mas teve que voltar exausto dos 6.700 metros, explica ele “em 2017 tentei o cume com apenas 7 dias de expedição, foi pouco, foi quase irresponsável para quem mora ao nível do mar, o normal seria levar cerca de 20 dias com auxilio de equipes, eu tentei sozinho, é o meu perfil, desafiar o próprio corpo. Este ano eu acreditava ser possível fazer em 9 dias, seguindo o mesmo plano mas dando 2 dias de descanso, mesmo com todas as dificuldades de estar sozinho e carregar todo meu equipamento deu certo desta vez, fiz um cume seguro, cedo, próximo ao meio dia e retornei em segurança ao acampamento, foi, sem dúvida, a maior provação de esforço do corpo que passei em toda minha carreira”

Apesar de ter tido sorte com predominância de bom tempo na maior parte da expedição, o que seria ainda baixas temperaturas em torno de zero grau e ventos relativamente fracos de 50km/h, o atleta contou que passou por alguns momentos de aflição, “tive dois momentos de grande preocupação, o primeiro ao chegar ao acampamento 2, a 5.500 metros fui pego em uma nevasca, garantir a segurança da barraca naqueles ventos eram incertos, a aquela altitude qualquer pessoa toma a decisão de retornar, mas para o Aconcagua era apenas mais um degrau. O outro momento foi no dia do cume, o sol estava nascendo e quando íamos receber o calor dos seus raios, uma nuvem preta surgiu literalmente do nada e se estacionou no cume da montanha, tudo ficou escuro, tinha apenas uns 15 metros de visibilidade e a temperatura despencou para uns 35 graus negativos, tudo em mim congelou, os zíperes, cadarços, tudo, foi sem duvida o momento de maior medo, decidi seguir em frente apostando que do mesmo jeito que a nuvem apareceu ela podia sumir e assim foi.”

Dividindo a vida entre os desafios e o trabalho como microempresário, Joao Vitor conta que não tem planos para outras altas montanhas como o Everest, mas com um repertorio de vários países e ambientes inóspitos podemos esperar mais dele “conquistar o Aconcagua foi mais uma provação do limite do meu corpo, de experimentar estar sem oxigênio e do que sou capaz de suportar na natureza, agora tenho um novo limiar do até onde posso ir quando estiver em minhas corridas, foi um teste de autoconhecimento. Me sinto mais tranquilo e mais preparado daqui pra frente”.

O próximo desafio confirmado do atleta é a prova de montanha Insanity Mountain, aqui no Mestre Alvaro em abril onde ele irá correr 33km subindo 3.300 metros ao total, além disso ele planeja para o primeiro semestre cruzar toda a Serra da Mantiqueira correndo com cerca de 150km e esta confirmado para cruzar as montanhas Dolomitas nos Alpes Italianos em maio.