Este ano me dediquei muito ao Trail Run e a expedições de trekking. A poucos meses meu amigo de triathlon, Marcelo Rosa, me veio com uma proposta de montanha audaciosa para janeiro, topei na hora e marcamos um trekking na Serra Fina para pegarmos uma certa experiência e ver como a dupla funcionava. Passamos vários "perrengues" como tinha que ser e estávamos aprovados. Na volta pra casa recebo o email do Fabio, presidente da Confederação Brasileira de Corrida de Aventura. Dizia que estava classificado para a final desse ano e que a prova seria organizada pela Brou Aventuras na Serra do Cipó, que sonho.
Perguntei a Marcelo se ele topava fechar uma dupla para a prova porque seria um grande desafio mental, o que nos ajudaria e muito para Janeiro. Ele topo na hora e lá estávamos no último sábado dia 17/12 a beira da Cachoeira do Tabuleiro, na Serra do Cipó, para a largada.
Já era minha terceira tentativa de fechar essa prova de mais de 130km e 20 horas de duração. Em 2015 e 2014 desisti da prova quando não havia condições de seguir, seja por inexperiência, seja por problemas técnicos.
Com isso falei que devíamos fazer a prova tranquilos, o objetivo era nos submeter ao intenso desafio mental que esta prova aplica sobre o atleta, você está lá solto na natureza selvagem, sujeito a tudo, sem auxílio, tendo que descobrir o seu caminho, perfeito!
Largamos e estávamos tranquilos, o visual da Cachoeira do Tabuleiro, os maciços de pedra da Serra do Cipó são de uma beleza única. Eu sempre critico o interior no Brasil, pois as montanhas viram pastos, plantações de eucalipto e por ai vai, mas lá não. A montanha é selvagem, dela brotam vários rios e cachoeiras de água filtrada naturalmente por um solo de cascalho, argila e pedra. Lindo!

Por um momento fiquei feliz, porque a largada havia atrasado em 9 minutos era perfeitamente normal e esperado que fizessem o mesmo com os cortes. Nada disso, irredutíveis, a organização disse que estávamos cortados depois de 9 horas e 3 minutos de prova, aliás não, depois de 8 horas 54 minutos de prova, o que nos daria direito a prosseguir mas não foi o que aconteceu.
O procedimento era seguir de bike direto pra canoagem, depois fazer os últimos 20km da prova.
Olhei pra Marcelo e a tristeza tomou conta, não discuto mais fervorosamente com as organizações de evento, expus meus argumentos e eles não acataram, disseram que "melhor assim, não era pra ser" . Não gostei mas acatei, não iria seguir para a canoagem, a prova pra mim tinha acabado, eu não preciso da organização para estar na natureza, a ideia da prova era curtir e participar de um desafio junto a outros competidores, já não me sentia mais em igualdade e seguimos o rumo de casa.
Nas provas de corrida de aventura, desistir não significa relaxar e tomar um banho, você é autossuficiente, então para chegarmos em casa, no caso, nossas barracas no camping, tínhamos a missão de 50km de estrada pedalando. No caminho para casa uma grata surpresa, no povoado de Ouro Fino paramos em um bar que havia uma Kombi de frete na frente, perguntamos de quem era mas o dono não estava lá, nisso pedimos ajuda e apareceu o Dimas, um sujeito bacana que pegou sua caminhonete em casa e disse que iria nos levar para o distrito de Tabuleiro onde estávamos, tivemos uma ótima prosa mineira no caminho. Dimas contava da sua interessante vida de uma pessoa que vivia para o trabalho em BH e largou tudo para voltar a morar no povoado onde nasceu com a família. 11 anos depois, disse que não se arrepende e a esposa não quer sair de lá por nada. Fiquei feliz em conhecê-lo, prova de que vale a pena estarmos "vivos" como ele disse ao invés de estarmos na rotina das grandes cidades.
Chegamos, 21:00hs da noite, tivemos uma boa refeição, falamos com os familiares e fomos dormir. A todo momento aquela mistura de pensamentos vinham a mente, tive várias análises e como disse nosso amigo de prova, um baiano, "vence aquele que tem menos "se". Se não tivesse rasgado o pneu, se tivesse feito uma parada 5 minutos mais rápida para comer, se se se...
De qualquer forma estava feliz, a experiência nos fez mudar algumas idéias e o bate papo com outros aventureiros nos fez mudar a estratégia do desafio em janeiro. 2017, estaremos lá de novo!